I
Os gritos que dei feriram-me a garganta
Por ausência dos gestos que avidamente procuravam.
Os gritos que já não dou sufocam-me o peito
Por as palavras se terem cansado perdidas dos gestos.
Ardem-me as mãos com a urgência dos gestos
E febris agarram as palavras de Luta
Para juntos palavras e actos iniciarem a construção do Futuro
Gritando de novo a uma só voz a uma só palavra
Que é “o Sonho que Comanda a Vida”.
II
As palavras despidas dos gestos
Perdem os afectos
Detêm-se num deserto
Inútil e traído.
Tempos de cólera dizia Marquez
Voando velocíssimos e sôfregos
Sobre as cabeças dos humanos
Esvaziando-as de Sonhos
Povoando-as de raiva
Exigindo o gesto libertador.
Mas despido das palavras que lhe dêem sentido
Vestido apenas com a urgência da raiva
O gesto é aleatório violento cruel
Perde o rumo para o Sonho.
III
Se o gesto anda perdido
E as palavras se esgotam
Por onde anda o coração?
A um coração a quem roubam o Amor
A humilhação não é razão para agir?
Humilhado e ofendido
O meu coração impele a palavra
Ao encontro da razão total
Transformada em Luta plena
Por actos certeiros e límpidos
Construídos por mãos abertas
Libertas Solidárias
De mãos dadas com outras mãos
As mesmas razões
A mesma humilhação no coração.
IV
Nas múltiplas identidades que sou
Percorro-me em constante e crítico diálogo
Entre Razão Emoção e Acção
Definindo-me contraditório
Exigindo-me Inteiro nas escolhas que faço
E nas consequências delas.
Mas sou também as circunstâncias que habito
E em mim habitam
E que hoje tanto humilham e ofendem
O meu coração
E tanto desesperam as palavras
Da minha razão.
Mas quando te olho nos olhos
Meu Amor
Quando Vos abraço meu Filho minha Filha
Quando vejo nos Vossos olhos o Sonho
De um Futuro que Vos é humanamente imprescindível
Então sei que as palavras regressarão à Razão
Com a força imensa da Emoção
Exigindo o acto justo necessário e urgente
Que nos liberte do presente de novo agrilhoado
Para definitivamente construirmos um Futuro
Livre Inteiro Solidário e Nosso!
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