É
uma honra estar perante Vós em representação da Associação Conquistas da
Revolução. O Vosso acolhimento fez de mim um privilegiado. Obrigado.
Estamos
a comemorar o 25 de Abril de 1974, Que sentido darmos a esta acção, vivendo nós
num mundo incerto, inseguro, instável, profundamente desigual?
O
relembrar um dia fantástico, pleno de alegria e de fraternidade, por muitos dos
que aqui estão vivido intensamente? Claro que sim, mas não apenas.
O
relevar uma data histórica de enorme importância neste País a caminho de 900
anos de uma vida colectiva, onde assinalar datas marcantes da sua evolução é
imperioso para as novas gerações sentirem orgulho em ser Filhos de Portugal?
Claro que sim, mas não apenas.
Comemorar
o 25 de Abril de 1974 é, tem de ser, bem mais do que isso. Tem de ser uma
Convocatória para olharmos para nós, cada um de nós e todos, para nos
descobrirmos: de onde viemos, quem somos, para onde vamos?
É
um desafio tremendo este. E não será nem fácil, nem asséptico, nem inócuo. Será
até, por vezes, bem difícil e doloroso.
Mas
é cada vez mais necessário e urgente que aceitemos participar activamente nesse
desafio, que pretende unir os nossos Passados, Presentes e Futuros num fio
condutor em que nos reconheçamos Inteiros e Livres.
Do
Passado, é imprescindível relembrar, e aqui prestar homenagem a todos quantos,
mulheres e homens, se empenharam, lutaram, sofreram, morreram, por nunca terem
desistido de construir um mundo melhor, para si, para todos, mas sobretudo para
as novas gerações de portugueses.
De
facto, o primeiro acto desta comemoração/convocatória do 25 de Abril é assumir
que esse dia libertador só foi possível porque muitos abriram caminhos e portas
para que ele acontecesse, mesmo com sacrifício da própria vida. Porquê? Esses
muitos que lutaram antes de nós e por nós, o fizeram sustentados e apoiados em
Valores que nunca abandonaram, os Valores que nos transmitiram pelo seu
exemplo.
Valores
como os que estão aqui representados por Vós – o Poder Local que nos é
imprescindível para nos afirmarmos de corpo Inteiro na construção comum de um
País soberano e independente. O Poder Local que a própria Carta dos Direitos
Fundamentais da União Europeia reconhece como indispensável para que a
construção dessa União aconteça pelas mãos abertas e libertas dos
trabalhadores, os dignos continuadores dessas lutas, pois é neles que reside a
soberania, e sem eles não seria, não será, possível.
Valores
com os três “D” que o 25 de Abril inscreveu no seu Programa: Democratizar, Desenvolver,
Descolonizar.
Poderemos
dizer, hoje, que esses três “D” estão cumpridos? Não, não podemos. Falta-nos
muito trabalho, individual e colectivo. Porquê? Olhemos para cada um deles.
Democratizar.
A democracia não se esgota na participação, de tantos em tantos anos, em
eleições, mesmo se livres e democráticas. Embora a Constituição imponha a
participação activa de todos nós na vida politica do País – a que chama
Democracia Participativa – confrontamo-nos com uma “governação pelo povo”, como
se os eleitos fossem substitutos do povo; e com uma “governação para o povo”,
como se o povo fosse incapaz de participar activamente nessa governação.
Falta-nos
construir a “governação Com o povo”.
Desenvolver.
Todo o progresso cientifico, tecnológico e técnico tem – ou deve ter – como
objectivo primordial, elevar os níveis de bem-estar de todos os seres humanos.
Esse progresso poderá criar condicionantes de vária ordem, e até muito
significativas, afectando as escolhas e opções que temos que fazer e assumir.
Mas se esse progresso cria instrumentos que passam a ser determinantes,
secundarizando ou mesmo excluindo as pessoas, então o Desenvolvimento deixará
de ser conduzido por Valores.
Falta-nos
reverter esta situação e colocar de novo as pessoas com fim primordial do
Desenvolvimento.
Descolonizar. A independência das ex-colónias
e a constituição da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa expressam o
cumprimento deste “D”. No entanto, hoje, somos nós próprios que nos temos de
“descolonizar” em relação à “união económica e monetária”, ao “euro”, ao
“tratado orçamental”, às “ instituições da união europeia” que,
demonstradamente, actuam segundo interesses que secundarizam, menosprezam,
excluem a soberania do país.
Falta-nos impor
uma igualdade de facto entre todos os Estados-Membros da União Europeia, sem a
qual a União Europeia será tudo menos uma união em que as pessoas de todos os
Estados-Membros se reconheçam Inteiras, Livres, Iguais e Solidárias.
Desta breve
análise dos três “D” do Programa do MFA podemos realçar que o que falta cumprir
em todos eles é assumir, definitivamente, o primado das pessoas, essencial para
o seu cumprimento integral.
Estando as
pessoas no coração de cada um desses “D”, tal acontece porque há um outro “D”
para cumprir: Dignificar.
Porque a
Dignidade é o fim de qualquer ser humano, expressa na autonomia e na
independência com que faz as suas escolhas e assume as consequências dessas
escolhas.
Porque a
Dignidade de cada um de nós se transporta para a Dignidade da Comunidade a que
pertencemos em que nos revemos inteiros e livres, dentro da qual participamos
activamente na construção de um Futuro comum, Nosso.
Comemorar Abril é assumirmos que somos convocados para darmos o
melhor de nós para que estes quatro “D” se cumpram.
Apresentado na Comemoração do 25 de Abril com os trabalhadores da
Camara Municipal do Seixal em 28 de Abril.
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