domingo, 23 de junho de 2013

“Achismos” e Ingenuidades

Lembro-me de, em brincadeiras de crianças, quando queríamos saber de que lado soprava o vento, molhávamos o indicador, espetávamo-lo no ar, e dizíamos "Acho que vem dali". Às vezes acertávamos, outras não. O actual ministro das finanças parece praticar, denodadamente, esta brincadeira, levando-a a sério: "Acho que esta previsão é que vai dar certo"; "Acho que foi a chuva que impediu o investimento". Praticada a um tão alto nível - o da governação de um País - é pertinente concluir estar perante uma nova filosofia política: o "Achismo". Vem isto a propósito de o líder do Partido Socialista ter afirmado, com profunda convicção, que a dívida de Portugal é para pagar na sua totalidade. E apresentou razões ponderosas a sustentar essa convicção, entre as quais relevou a imprescindível credibilidade do País perante os credores e outros actores internacionais. "Acho" bem! E porque considero o líder do Partido Socialista uma pessoa inteligente, coerente, credível, dei por mim a "achar" que ele, logo que seja eleito em futuras eleições legislativas e tome posse como primeiro-ministro, devolverá, de imediato e a bem da imprescindível credibilidade da governação, a todos os pensionistas e reformados, todo o dinheiro que o actual governo lhes anda a roubar. "Acho" bem! Ou "achava", até que fui confrontado com a notícia de que o líder do Partido Socialista vai à próxima reunião do Grupo Billderberg. Por que deixei de "achar"? Porque o primeiro compromisso é uma exigência daquele grupo (e de outros semelhantes), e foi assumido pelo líder do Partido Socialista como "chave" para participar na reunião. Porque o segundo compromisso é absolutamente rejeitado pelos mesmos grupos (seria um precedente subversivamente gravíssimo contra os seus interesses!) e, portanto, é inviável ao líder do Partido Socialista assumi-lo. Dirá mais tarde, e muito convictamente, "Não há alternativa!". Aqui chegados, uma conclusão surge: depois de há alguns anos o
grande líder do Partido Socialista ter "metido o socialismo na gaveta", o actual líder do mesmo partido apresenta-nos, de forma inteligente, coerente e credível, a sua escolha política convictamente assumida: a Democracia a que Portugal tem direito é a democracia de alterne. De alterne, sim, porque a promiscuidade das relações políticas, financeiras e económicas navega num oceano de euros, onde a impunidade - de roubar os cidadãos, p. ex. - é factor determinante do ADN político de qualquer "governante" pertencente a um qualquer "arco de governabilidade". Definitivamente, já não há espaço, nem tempo, para "achismos". Nem - muito menos! - para ingenuidades!

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