sábado, 20 de dezembro de 2014

SEQUENCIA CRONOLÓGICA DOS ACONTECIMENTOS A BORDO DA FRAGATA NRP “GAGO COUTINHO” 25 DE ABRIL DE 1974

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1. Às 07H00 a Fragata Gago Coutinho sai da Base Naval de Lisboa a fim de integrar a força da NATO com destino a Nápoles.

2. O navio ocupa a sua posição na formatura da Força Nato.

3. Entre as 08H00 e as 08H30 o EMA/VICE-CEMA ordena ao Comandante do navio que abandone a formatura, bem como a estrutura de Comando aliada, passando a atuar sob as ordens directas do Almirante CEMA.

4. Em rumo para o Terreiro do Paço, o Imediato informa o Comandante de que há um compromisso de neutralidade activa da Marinha para com o Movimento Militar.

5. Pouco depois o Comandante recebe a ordem do Vice Cema para abrir fogo sobre os tanques rebeldes do Terreiro do Paço (existem testemunhas dessa comunicação), sendo-lhe afirmado que a Marinha tinha de tomar uma posição contra o Movimento.

6. O Comandante, alegando existirem cacilheiros e muitos civis no Terreiro do Paço, não cumpre a ordem, informando mais tarde ter problemas na artilharia. Entretanto dá ordem ao chefe de Serviço de Artilharia para colocar as peças de 76.2/50 na máxima elevação (85o) e municiar as peças com munições de combate, dando inicio a manobras do navio a velocidade elevada na zona fronteira ao Terreiro do Paço.

7. A estrutura do Movimento da Marinha toma conhecimento imediato das ordens dadas pela liderança da Marinha ao navio, de oposição ao Movimento Militar; informa o Posto de Comando do Movimento do que se estava a passar.

8. Entre as 08H30 e as 09H00 o Comandante reúne na câmara de oficiais com o Imediato, o Ten. Varela Castelo e o Ten. Almeida Moura para enunciar que existiam três alternativas face a um potencial ataque das forças revoltosas: FUGA, PASSIVIDADE e REACÇÃO. E afirma que nessa eventualidade optaria pela reacção.

9. O Posto de Comando contacta com um elemento de ligação da Direcção do Movimento da Marinha no sentido de ser transmitida para a Fragata ordem para baixar as peças, levando-as à horizontal, e sair a barra ou fundear. Esta ordem é transmitida ao navio através de elementos do Movimento na Esquadrilha de Submarinos.

10. Entre as 09H00 e as 09H30 o Comandante recebe ordens para fazer fogo de salva para o ar. Dado não existirem a bordo nem peças nem munições de salva, pelas 09H30, de acordo com o registo do Diário Náutico, o Comandante dá ordens para municiar as peças com munições de exercício.

11. Entre as 09H30 e as 09H45 o Almirante CEMA dá directamente ordem de fogo de salva ao Comandante, reforçando a ordem já dada anteriormente pelo Vice-CEMA. O Comandante determina ao chefe do Serviço de Artilharia que faça fogo com munições de exercício para o ar.

12. O chefe do Serviço de Artilharia não obedece à ordem do Comandante, informando-o de que o Imediato lhe queria dar uma palavra.

13. O Imediato do navio, tentando falar a sós com o Comandante na asa da ponte de bombordo, o que não conseguiu, reafirma-lhe, na ponte do navio, a intenção dos oficiais de recusarem fazer fogo, mesmo com munições de exercício.

14. O elemento do Movimento na Esquadrilha de Submarinos é o Ten. Lourenço Gonçalves, que, com a ajuda do Cabo Telegrafista Viana, estabelece a comunicação com a fragata referida no ponto 9, transmitindo ao Imediato, em nome do Posto de Comando do Movimento, a seguinte ordem: “O seu navio é o único fiel ao governo. Saia a barra com as peças em zero, ou fundeie”.

15. O Imediato informa o Movimento, através deste oficial, que a situação a bordo estava controlada que o Comandante tinha dado ordem de fogo com munições de exercício para o ar e que os oficiais se tinham recusado a cumprir a ordem.

16. Enquanto o Imediato estava na cabine TSF, o Comandante deu segunda ordem de fogo com munições de exercício ao 1º Ten. Dores Sousa, que mais uma vez se recusou a cumprir a ordem.

17. Finda a comunicação com o Posto de Comando do Movimento, o Imediato dirigiu-se à ponte para informar o Comandante do diálogo radiotelefónico havido. Quando começa a transmitir o teor da comunicação, o Comandante, em crescente histeria, não o deixa completar a sua informação e exonera-o do cargo de Imediato. O Comandante convida os oficiais que se seguem em antiguidade ao Imediato para assumirem o cargo, convite que recusaram.

18. Após ter sido transmitida a ordem do Posto de Comando do Movimento Militar ao navio através do contacto com o Imediato, a estrutura do Movimento da Marinha retransmite ao Posto de Comando a informação do Imediato de que a situação estava controlada e que o navio não abriria fogo. Esta informação é passada pelo Posto de Comando às Forças do Terreiro do Paço.

19. Os oficiais mantiveram-se disciplinadamente a cumprir as ordens do Comandante, excepto a de abrir fogo.

20. Pelas 13H20 o navio fundeou no Mar da Palha. O Comandante convoca todos os oficiais para uma reunião na câmara. Em cima da mesa coloca uma pasta de arquivo verde, onde estava inscrita a palavra “REVOLUÇÃO”.

21. Após ter inquirido todos os oficiais um a um, do mais moderno para o mais antigo, sobre se mantinham a sua posição de recusa em abrir fogo, o Comandante considerou todos os oficiais insubordinados.

22. No final da reunião, que terminou antes da rendição de Marcelo Caetano no Carmo, o Comandante realçou, explicitamente, a necessidade de cada um não se esquecer da posição assumida, pois ele também não se esqueceria.

23. Às 20H15 o navio suspendeu do Mar da Palha e entrou no canal do Alfeite, dirigindo-se ao cais 2 da Base Naval de Lisboa onde atracou pelas 20H40.

Documento elaborado pelo Imediato e pelos oficiais da Fragata Gago Coutinho

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